Aquário Cinza
Por Keven Magalhães¹
Felipe Furtado, artista desde criança e formado em Artes Visuais pela FAV, UFPA, é autor do quadrinho Aquário Cinza – HQ resultado de seu TCC, orientado pelo professor John Fletcher, em uma parceria com o Museu Goeldi. O artista se inspira em quadrinhos e no rap regional para promover, em sua obra, reflexões introspectivas sobre o contraste acentuado que existe entre a vida frenética da Belém urbana e a natureza, espécie de “calmaria do verde”, contradição esta bastante comum na vida nortista.
Não só nas fontes citadas, mas aqui o próprio roteiro foi inspirado também em uma vivência pessoal do autor, a qual se deu em uma pesquisa de observação no museu parceiro, onde pôde vivenciar alguns dos momentos expressos na obra. Suas observações, vale acrescentar, tiveram inspiração etnográfica para traduzir na mídia das narrativas sequenciais sua experiência com a exposição Baleia à Vista, realizada no Aquário Jacques Huber, espaço localizado no interior do supracitado museu.
Em Aquário Cinza, portanto, fica claro o domínio singular do autor sobre o nanquim e a aquarela, as principais técnicas empregadas na produção, algo que se expressa em cada quadro, e até mesmo nas calhas do HQ – ou, nesse caso, galhos que regem a cadência da história –, seguindo um ritmo fluido e onírico, carregado de reflexões pessoais em cada fala ou cena. A obra inteira segue com um clima altamente reflexivo, onde os tons de cinza gerados pelo nanquim são predominantes – mas em momentos pontuais, dando espaço para cores bastante vívidas – e, de alguma forma, juntos aos diálogos, instauram uma sensação filosófica sobre a ancestralidade que existe, por vezes esquecida, dentro de cada um de nós.
Baseado em uma experiência pessoal, o quadrinho ilustra o alívio do alter ego de Felipe ao ter contato com a natureza e o desafogo de poder respirar um ar menos poluído, ou, nas palavras do protagonista, ter “uma sensação de liberdade”. Mas é a partir de um encontro do protagonista com um idoso que, em um diálogo simples e suave, a obra adentra nos conhecimentos de gerações mais antigas e na reflexão sobre a importância do Museu Goeldi para a Amazônia.
¹. Keven Magalhães é discente do curso de Licenciatura em Artes Visuais (FAV/ UFPA) e bolsista do Projeto de Extensão “Memórias das Artes Visuais: Arte, Cultura e Patrimônio nas Redes”.
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